Ninguém vê o que tem, só vê o que não tem
Cheguei a casa depois de mais um dia, estava arrasado… Das colunas o Miles debitava aquilo que o fez ficar famoso, apetecia-me beber e fumar, por isso abri uma cerveja e acendi um cigarro. Talvez não fosse a melhor ideia pois doía-me os cornos como tudo, sentia que a minha cabeça ia explodir a qualquer momento, mas o trompete mágico acalmou-me, além do que meti uma aspirina no buxo com as primeiras goladas de Super Bock. Ela tinha ficado de passar cá por casa mas não sei por onde é que andava, não me preocupei, deixei a minha mente deambular pelo dia frio que tinha passado. Na rua encontra-se sempre a mesma escumalha do costume, as mesmas putas do costume, e os mesmos cabrões do costume. Trabalhava a atender pessoas para as quais não tinha a mínima paciência, nem vontade de falar.
Não fazia nada de cansativo apenas extramamente entediante; para piorar andava a dormir pouco por noite, quatro a cinco horas, e mesmo assim não tinha tempo para fazer tudo o que queria.
A cerveja a esta altura ia já a meio mas não me sabia a nada de jeito, não estava a sentir-me lá muito bem, apetecia-me sair de casa e andar por aí, mas ao mesmo tempo só queria era ir dormir. Foda-se ando com a cabeça não sei onde, devo ter um aspecto terrível, parece que fui desenterrado, mas também estou-me a cagar.
Os cigarros sucediam-se à cadência das músicas do Miles, parecia que só estava bem envolto numa névoa do meu próprio fumo e cheiro; a minha casa também parecia uma tenda de circo, mas depois do espectáculo dos elefantes ter passado por lá, só jornais espalhados por todo o lado, qualquer dia pego fogo acidentalmente a esta merda toda e depois quero ver como é que me safo.
Na secretária os envelopes com contas acumulavam-se, ao lado dos cd’s todos a monte, realmente eu é chapa ganha chapa gasta, também que se foda quando a guita acabar, como sandes, assim como assim é ao que me ando alimentar ultimamente.
Nalgum ponto passado parece que me desviei do caminho, não sei se tomei o pior mas certamente tomei um diferente. Ando a deambular por aí mais pareço uma morto-vivo, nem sei por quanto tempo mais o iria aguentar não fosse tê-la encontrado. Mas não quero pensar muito nisso porque já sei como sou e a tendência que tenho de rebentar com todas as coisas realmente boas da minha vida.
Apesar de tudo nunca me deu para cortar os pulsos, o máximo que me dá para fazer às vezes é meter dois valiums para dentro e esperar que me atinjam como uma pedra; fico estendido na cama durante horas num sono sem sonhos, sem imagens, sem alma quase. Ainda assim seria interessante verter umas gotas de sangue só para ter a certeza que ele pulsa mesmo nas minhas veias. Necessito de provas que sou um ser vivo, pelo menos de vez em quando. Sémen, suor, lágrimas sei que tenho, mas sangue, quente e vermelho, chego a duvidar.
O telemóvel toca, do outro lado uma voz que me acalma e faz querer continuar, diz que me irá ver dentro de poucos minutos; levanto-me a custo do sofá e abro a janela para purificar um pouco o espaço; cheira a fumo de tabaco, a lençois maltratados por duas pessoas a foder e a vinho derramado; os cheiros mais constantes dos últimos tempos na minha vida, no fundo os cheiros que me acompanham de dia e de noite…
Não fazia nada de cansativo apenas extramamente entediante; para piorar andava a dormir pouco por noite, quatro a cinco horas, e mesmo assim não tinha tempo para fazer tudo o que queria.
A cerveja a esta altura ia já a meio mas não me sabia a nada de jeito, não estava a sentir-me lá muito bem, apetecia-me sair de casa e andar por aí, mas ao mesmo tempo só queria era ir dormir. Foda-se ando com a cabeça não sei onde, devo ter um aspecto terrível, parece que fui desenterrado, mas também estou-me a cagar.
Os cigarros sucediam-se à cadência das músicas do Miles, parecia que só estava bem envolto numa névoa do meu próprio fumo e cheiro; a minha casa também parecia uma tenda de circo, mas depois do espectáculo dos elefantes ter passado por lá, só jornais espalhados por todo o lado, qualquer dia pego fogo acidentalmente a esta merda toda e depois quero ver como é que me safo.
Na secretária os envelopes com contas acumulavam-se, ao lado dos cd’s todos a monte, realmente eu é chapa ganha chapa gasta, também que se foda quando a guita acabar, como sandes, assim como assim é ao que me ando alimentar ultimamente.
Nalgum ponto passado parece que me desviei do caminho, não sei se tomei o pior mas certamente tomei um diferente. Ando a deambular por aí mais pareço uma morto-vivo, nem sei por quanto tempo mais o iria aguentar não fosse tê-la encontrado. Mas não quero pensar muito nisso porque já sei como sou e a tendência que tenho de rebentar com todas as coisas realmente boas da minha vida.
Apesar de tudo nunca me deu para cortar os pulsos, o máximo que me dá para fazer às vezes é meter dois valiums para dentro e esperar que me atinjam como uma pedra; fico estendido na cama durante horas num sono sem sonhos, sem imagens, sem alma quase. Ainda assim seria interessante verter umas gotas de sangue só para ter a certeza que ele pulsa mesmo nas minhas veias. Necessito de provas que sou um ser vivo, pelo menos de vez em quando. Sémen, suor, lágrimas sei que tenho, mas sangue, quente e vermelho, chego a duvidar.
O telemóvel toca, do outro lado uma voz que me acalma e faz querer continuar, diz que me irá ver dentro de poucos minutos; levanto-me a custo do sofá e abro a janela para purificar um pouco o espaço; cheira a fumo de tabaco, a lençois maltratados por duas pessoas a foder e a vinho derramado; os cheiros mais constantes dos últimos tempos na minha vida, no fundo os cheiros que me acompanham de dia e de noite…