Caderno
Linhas azuis sobre um fundo branco, imaculado; assim é este caderno antes de começar a escarafunchá-lo com uma caneta.
Como uma tela em frente ao indeciso pintor, o caderno sabe ao que veio. Seja romance, diário, poemas ou simples pensamentos, à medida que às suas páginas vão sendo escritas, o seu fim vai também ficando mais perto.
Um caderno sem nada escrito é triste, é sorumbático; pede-nos que o levemos e o enchamos seja lá do que for…
A visão de um caderno limpo dá-me sempre vontade de o sujar com qualquer coisa nem que seja enchê-lo de hieróglifos indecifráveis para todos, menos para mim e esse caderno. Nasce uma cumplicidade entre os dois, o caderno e eu; uma relação por vezes indiferente, por vezes intensa a ponto das relações de amor-ódio.
O caderno abre-se para nós como uma prostituta perante o cliente entesado que lhe paga, sabe que ali está para sucumbir aos caprichos e desejos do ser armado com um instrumento de escrita ou desenho.
Tal como uma meretriz de tempos mais honestos e sinceros, também o caderno guarda e sabe guardar segredos dentro de si; nada há que não lhe possamos confidenciar.
O caderno alimenta-se desta caneta como uma vara de porcos de uma manjedoura; suga a sua tinta sofregamente como uma imberbe que ainda não sabe fazer broches; mas suga ainda assim tudo o que esta caneta tem para lhe dar.
Por vezes penso no que aconteceria se os cadernos por esse mundo fora revelassem os seus conteúdos – provavelmente deixaríamos de existir como raça e consequentemente condenaríamos também os cadernos à morte. Talvez não à morte física pois se não os queimarmos ou afogarmos, os cadernos continuam como coisa material; mas certamente, sem homens e mulheres a quem roubar palavras, esses mesmos cadernos veriam a sua alma despedaçada.
Tenho para mim que será por essa razão que os cadernos não falam, não se oferecem ao mundo por dá cá aquela palha, mostrando os segredos neles inscritos; trata-se do mais básico e antigo de todos os instintos: o da sobrevivência – sem homens os cadernos não vivem.
Como uma tela em frente ao indeciso pintor, o caderno sabe ao que veio. Seja romance, diário, poemas ou simples pensamentos, à medida que às suas páginas vão sendo escritas, o seu fim vai também ficando mais perto.
Um caderno sem nada escrito é triste, é sorumbático; pede-nos que o levemos e o enchamos seja lá do que for…
A visão de um caderno limpo dá-me sempre vontade de o sujar com qualquer coisa nem que seja enchê-lo de hieróglifos indecifráveis para todos, menos para mim e esse caderno. Nasce uma cumplicidade entre os dois, o caderno e eu; uma relação por vezes indiferente, por vezes intensa a ponto das relações de amor-ódio.
O caderno abre-se para nós como uma prostituta perante o cliente entesado que lhe paga, sabe que ali está para sucumbir aos caprichos e desejos do ser armado com um instrumento de escrita ou desenho.
Tal como uma meretriz de tempos mais honestos e sinceros, também o caderno guarda e sabe guardar segredos dentro de si; nada há que não lhe possamos confidenciar.
O caderno alimenta-se desta caneta como uma vara de porcos de uma manjedoura; suga a sua tinta sofregamente como uma imberbe que ainda não sabe fazer broches; mas suga ainda assim tudo o que esta caneta tem para lhe dar.
Por vezes penso no que aconteceria se os cadernos por esse mundo fora revelassem os seus conteúdos – provavelmente deixaríamos de existir como raça e consequentemente condenaríamos também os cadernos à morte. Talvez não à morte física pois se não os queimarmos ou afogarmos, os cadernos continuam como coisa material; mas certamente, sem homens e mulheres a quem roubar palavras, esses mesmos cadernos veriam a sua alma despedaçada.
Tenho para mim que será por essa razão que os cadernos não falam, não se oferecem ao mundo por dá cá aquela palha, mostrando os segredos neles inscritos; trata-se do mais básico e antigo de todos os instintos: o da sobrevivência – sem homens os cadernos não vivem.
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