domingo, agosto 01, 2004

Tédio, que me pedes distracção!

Todos os dias é a mesma merda: levantar para ir trabalhar. Vida entediante como tudo. O que vale é que de vez em quando acontece algo que nos ocupa a mente e distrai (também o tédio às vezes é tanto que não é preciso muito para nos distrairmos), e não estou a falar necessariamente de mulheres que elas causam mais problemas do que distraiem…
Hoje estava na livraria atrás do balcão e aparece-me um desses ex-sem-abrigo que vendem a revista “Cais”, gordo como um tonel e com as pernas em ferida; nem sei que doença ou problema de pele é que aquele homem tem, mas que tem mau aspecto, isso é "vero".
Bem o homem começou para lá numa algaraviada em que eu não percebi patavina; só consegui compreender que queria que eu lhe guardasse um saco durante umas horas; assim o fiz, agarrei no saco e pu-lo atrás do balcão e ele continuou para lá a balbuciar qualquer coisa antes de se ir embora.
Estes ex-sem-abrigo são seres interessantes, uns limitam-se a mostrar a revista e não dizem nada, como um que está sempre no Saldanha – nunca sorri, nunca fala e até já me apeteceu comprar-lhe uma revista porque o olhar do rapaz dá-me pena. Outros há, como o gordo-das-pernas-feridas que estão sempre a “remoer” e o pior é que falam com a boca fechada e não se percebe nada. Devem ser as consequências de viver na rua, penso eu; ficam todos meio loucos; a uns dá-lhes para não falar, a outros para estarem sempre a murmurar coisas sem nexo.
Pelo menos não andam a roubar ou a dar o cú, ou se calhar até andam, um gajo é que pensa que não.
Há outra que aparece pela livraria sempre a chatear os clientes: “Comprem-me uma revistinha, comprem-me uma revistinha”, anda às voltas sempre a dizer aquilo, mas também não tenho pachorra para lhe dizer para se pirar. Aquilo é a maneira dela ganhar a vida, por isso que se lixe, se alguém se sentir incomodado que diga.
Também de resto não se passa nada, as pessoas entram desfolham livros, compram ou não, porque não se pode comprar livros hoje em dia; são caros como a merda e também não é bom que as pessoas leiam muito, porque podem começar a ter ideias ou pensar em determinadas coisas, e as hostes políticas gostam é que o povão não faça muitas ondas, e andem aqui como carneirada a cheirar os cús uns aos outros.
De vez em quando lá aparece uma boa para alegrar a vista e fica-se por aqui; eu ainda tento ser simpático, mas careca e branco como estou, não tenho sorte nenhuma.
Ainda ontem apareceu por cá uma francesa toda gira e sozinha, que queria saber se estava na zona da Expo 98; a livraria é em Belém!?! Expliquei-lhe como ia para lá, até lhe escrevi tudo num papel e em inglês, mas nem sequer me lembrei de pôr lá o meu número de telemóvel ou assim… Não há simpatia que valha se não aproveitamos as oportunidades que se nos apresentam; se calhar estava à espera que ela aprecesse hoje ou amanhã, para me agradecer, não?!! Às vezes sou mesmo otário! Mas tutti benne, no fim do dia fecha-se o “estaminé”, reza-se para que não falte nada e embora para casa dormir que se faz tarde.
Nada como viver um dia a seguir ao outro!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Man... à um gajo no metro a vender a cais que tem a postura mais curiosa que já vi... Está ali feito estátua a segurar a revista com as duas mãos como quem segura a vida e a cada pessoa que passa faz-lhe um sorriso como se de uma recepção tratasse. Óptima imagem de marca... Sem dúvida hei-de lembrar-me dele sempre... No entanto o marketing não funcionou muito nunca lhe comprei uma revista... Não é que seja um porco... Mas costumo comprar junto a um semáforo.

Carlos Sampaio

3:04 da tarde  

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