Noites de JAH
A primeira vez saímos apenas eu, Bob “Rasta” e Judy: encontramo-nos os três no meio do Barrio depois de eu e Judy termos estado uma hora à espera do autocarro e de Bob ter estado no Blue a “secar”. Dirigimo-nos para o Jazz Bar para bebermos um copo e ouvirmos um bom som, Coltrane ou Bird, qualquer coisa assim. Deambulamos mais um pouco a ver os bares e numa esquina Bob pôs-se a fazer um charro de erva, mas erva angolana, não era uma “cena” qualquer. Ao verem Bob a desenrolar o papel jornal onde trazia a erva, a “chungaria” começou logo a aproximar-se como cães esfomeados perante um naco de carne. Ainda tivemos que aturar um chato que nos ofereceu pólen e conversa de “chacha”, e nós lá conseguimos arranjar paciência para o aturar.
Ainda estávamos nós a levar com os eflúvios daquele primeiro charro que mais parecia um supositório, e o efeito da erva já se começava a fazer sentir. Que maravilha! Descemos do Barrio à procura dum sítio onde púdessemos curtir a moca, mas sem darmos por ela íamos sendo assaltados por um grupo de uns 10 putos sem mais de quinze anos, de certeza. Para escaparmos metemo-nos num táxi e decidimos ir andando para outro sítio, menos perigoso, mas para mal dos meus pecados o bar que eu escolhi estava cheio de gente de mau aspecto à porta, de maneira que nos víemos embora a pé até casa da Judy. Andámos pa’ caraças sempre mocados e com a adrenalina, bombeada no sangue por causa do medo, a fazer com que estívessemos a olhar sempre de um lado para o outro à espreita…
Finalmente chegámos salvos a casa de Judy, nada dizíamos, nada de jeito pelo menos; só nos ríamos feitos perdidos, e Bob começa a falar de Jah, e de que tudo vinha e ia para Jah. E aquilo estava a fazer todo o sentido na minha mente, e as palavras de Bob Marley, ecoavam no fundo da minha memória, e também elas eram cristalinas e verdadeiras.
Judy arranjou-nos de beber, Bob fez outro charro, e ambos eram lindos. Ela sentada numa cadeira com rodinhas, com o cabelo curtinho, parecia uma punk; linda; sem nenhuma espécie de carga sexual associada a essa beleza. Bob ria-se enquanto falava de Jah e enrolava o outro charro.
Eu estava completamente em comunhão com todas as “good vibrations” que alguma vez existiram, Jah estava realmente presente no meio de nós, aliás como ele disse que estaria, sempre que mais do que um se reunisse em nome dele.
Todas as noites acabam e essa não foi excepção, fomos todos dormir já era de dia, com um sorriso estampado nas nossas caras.
Passadas duas semanas combinámos mais uma saída, desta vez Neige também foi; não a via há muito tempo. Neige era uma miúda linda, branquinha; estava um pouco mais magra e com olheiras; notava-se o cansaço no rosto dela, mas sempre bem disposta. Judy tinha acabado de tomar banho quando cheguei a casa dela, ainda foi fritar uns bifes para comer, enquanto eu e Neige falávamos das respectivas vidas. Achei Neige um pouco em baixo, mas hoje em dia quem é que não o está. Bob apareceu umas horas depois e seguimos todos de eléctrico para o Barrio, indo directamente para o Blue onde bebemos umas “jolas”. À saída do Blue passámos pela padaria para comermos, e seguimos para perto das Puertas Locas, onde a “gayzada” se junta toda e fica para ali a mamar copos e a deitar olhares. Bob não perdeu tempo e fez logo um charro daquela maravilhosa erva, pelo caminho. Ao passarmos pelos gays e lésbicas que por ali pululavam já iámos todos a rir, sem sabermos bem porquê. Neige tinha encontrado um amigo, eu, Judy e Bob só díziamos coisas sem nexo mas que se complementavam inexplicavelmente.
Mais do que da primeira vez senti-me mesmo bem e maravilhado com tudo o que ia acontecendo à minha volta, não havia pressas para chegar a lado nenhum e tudo estava em perfeita harmonia, até que fomos para a porta do Orange… Não entrámos logo porque Neige estava a beber uma cerveja, nisto aparece-nos à frente um gajo a pedir uns trocos, a insistir que lhe dessemos nem que fosse meio cêntimo. Neige vira-se para ele e diz-lhe que não existem meios cêntimos, ao que ele lhe pergunta estupefacto se ela estava a gozar com ele. Neige explica-lhe que a unidade monetária mais baixa é mesmo o cêntimo ao que ele lhe responde de braços abertos: “Não, estás a gozar? Dizerem-me que não existe meios cêntimos é o mesmo que me dizerem que não existe Deus…” A cena parecia tirada de um filme, mas para ser ainda mais surrealista só mesmo o que se passou a seguir. Enquanto o gajo-dos-meios-cêmtimos baixava os braços aparece um negro que para a 20 centímetros do Bob e lhe pergunta isto: “Onde é que está o preto? Onde é que está o branco?” e desata a rir a seguir… Aí o medo da primeira semana voltou; já maldizíamos a erva que ao mesmo tempo nos punha tão bem, mas até parecia atrair este tipo de cenas. Chegámos à conclusão que era mesmo isso, quem fumava esta erva milagrosa ficava com uma espécie de nimbo luminoso à volta, mas em vez de atrair mosquitos e bicharia afim , atraía era “chungosos”, malucos e gajos que nos queriam assaltar ou fazer mal. Esta erva vem de Jah e os outros não gostam de sentir deixados de lado da sua magnificência; não conseguem aceitar que nós estejamos “lá” e eles não.
Mas Jah é mesmo assim, faz destas para nos sentirmos vivos, para podermos apreciar as boas coisas, para criarmos e estarmos em harmonia.
Jah nos tira, Jah nos dá, Jah está todo lá dentro…
Dedicado aos designers de Jah: Inês, Ronaldo e Xana
Ainda estávamos nós a levar com os eflúvios daquele primeiro charro que mais parecia um supositório, e o efeito da erva já se começava a fazer sentir. Que maravilha! Descemos do Barrio à procura dum sítio onde púdessemos curtir a moca, mas sem darmos por ela íamos sendo assaltados por um grupo de uns 10 putos sem mais de quinze anos, de certeza. Para escaparmos metemo-nos num táxi e decidimos ir andando para outro sítio, menos perigoso, mas para mal dos meus pecados o bar que eu escolhi estava cheio de gente de mau aspecto à porta, de maneira que nos víemos embora a pé até casa da Judy. Andámos pa’ caraças sempre mocados e com a adrenalina, bombeada no sangue por causa do medo, a fazer com que estívessemos a olhar sempre de um lado para o outro à espreita…
Finalmente chegámos salvos a casa de Judy, nada dizíamos, nada de jeito pelo menos; só nos ríamos feitos perdidos, e Bob começa a falar de Jah, e de que tudo vinha e ia para Jah. E aquilo estava a fazer todo o sentido na minha mente, e as palavras de Bob Marley, ecoavam no fundo da minha memória, e também elas eram cristalinas e verdadeiras.
Judy arranjou-nos de beber, Bob fez outro charro, e ambos eram lindos. Ela sentada numa cadeira com rodinhas, com o cabelo curtinho, parecia uma punk; linda; sem nenhuma espécie de carga sexual associada a essa beleza. Bob ria-se enquanto falava de Jah e enrolava o outro charro.
Eu estava completamente em comunhão com todas as “good vibrations” que alguma vez existiram, Jah estava realmente presente no meio de nós, aliás como ele disse que estaria, sempre que mais do que um se reunisse em nome dele.
Todas as noites acabam e essa não foi excepção, fomos todos dormir já era de dia, com um sorriso estampado nas nossas caras.
Passadas duas semanas combinámos mais uma saída, desta vez Neige também foi; não a via há muito tempo. Neige era uma miúda linda, branquinha; estava um pouco mais magra e com olheiras; notava-se o cansaço no rosto dela, mas sempre bem disposta. Judy tinha acabado de tomar banho quando cheguei a casa dela, ainda foi fritar uns bifes para comer, enquanto eu e Neige falávamos das respectivas vidas. Achei Neige um pouco em baixo, mas hoje em dia quem é que não o está. Bob apareceu umas horas depois e seguimos todos de eléctrico para o Barrio, indo directamente para o Blue onde bebemos umas “jolas”. À saída do Blue passámos pela padaria para comermos, e seguimos para perto das Puertas Locas, onde a “gayzada” se junta toda e fica para ali a mamar copos e a deitar olhares. Bob não perdeu tempo e fez logo um charro daquela maravilhosa erva, pelo caminho. Ao passarmos pelos gays e lésbicas que por ali pululavam já iámos todos a rir, sem sabermos bem porquê. Neige tinha encontrado um amigo, eu, Judy e Bob só díziamos coisas sem nexo mas que se complementavam inexplicavelmente.
Mais do que da primeira vez senti-me mesmo bem e maravilhado com tudo o que ia acontecendo à minha volta, não havia pressas para chegar a lado nenhum e tudo estava em perfeita harmonia, até que fomos para a porta do Orange… Não entrámos logo porque Neige estava a beber uma cerveja, nisto aparece-nos à frente um gajo a pedir uns trocos, a insistir que lhe dessemos nem que fosse meio cêntimo. Neige vira-se para ele e diz-lhe que não existem meios cêntimos, ao que ele lhe pergunta estupefacto se ela estava a gozar com ele. Neige explica-lhe que a unidade monetária mais baixa é mesmo o cêntimo ao que ele lhe responde de braços abertos: “Não, estás a gozar? Dizerem-me que não existe meios cêntimos é o mesmo que me dizerem que não existe Deus…” A cena parecia tirada de um filme, mas para ser ainda mais surrealista só mesmo o que se passou a seguir. Enquanto o gajo-dos-meios-cêmtimos baixava os braços aparece um negro que para a 20 centímetros do Bob e lhe pergunta isto: “Onde é que está o preto? Onde é que está o branco?” e desata a rir a seguir… Aí o medo da primeira semana voltou; já maldizíamos a erva que ao mesmo tempo nos punha tão bem, mas até parecia atrair este tipo de cenas. Chegámos à conclusão que era mesmo isso, quem fumava esta erva milagrosa ficava com uma espécie de nimbo luminoso à volta, mas em vez de atrair mosquitos e bicharia afim , atraía era “chungosos”, malucos e gajos que nos queriam assaltar ou fazer mal. Esta erva vem de Jah e os outros não gostam de sentir deixados de lado da sua magnificência; não conseguem aceitar que nós estejamos “lá” e eles não.
Mas Jah é mesmo assim, faz destas para nos sentirmos vivos, para podermos apreciar as boas coisas, para criarmos e estarmos em harmonia.
Jah nos tira, Jah nos dá, Jah está todo lá dentro…
Dedicado aos designers de Jah: Inês, Ronaldo e Xana
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