A vida em 3D
Cheira mal aqui, porra, e eu não sei se é de mim ou se é desta miúda aqui à minha frente… Bem de mim não deve ser, tomei banho à cerca de uma hora, mas estou com tanto sono que ainda nem consigo distinguir de onde vêm os cheiros; foda-se então só pode ser mesmo dos pés desta gaja. Que merda, uma miúda tão jeitosa a cheirar assim, também se vê logo pelo aspecto geral que ainda não se deitou, deve ter andado na farra, mas este cheiro é que não pode ser. Isto a mim tira-me logo a tesão toda, não sei porquê sou um gajo bastante sensível aos cheiros dos outros, as feromonas em mim têm um efeito lixado; comigo, se não gosto do cheiro já vai ser díficil interessar-me por alguém.
Estas pequenas viagens nos transportes públicos têm muitas vezes acontecimentos particularmente interessantes – o velho louco e suado que só diz asneiras, a miúda gira que cheira mal dos pés, o mamilo erecto por baixo de uma t-shirt sem soutien de uma atraente nórdica, o palrar descontrolado dos turistas espanhóis que acabam por sair sempre na paragem errada. Coisas destas dão um colorido diferente às minhas manhãs, aliás não é por acaso que me levanto meia hora mais cedo, estas viagens de transporte público são me necessárias, para poder vislumbrar a fauna existente por aí na cidade. Podia muito bem ir no meu carro, ou de táxi, ganho suficientemente bem para isso - seria demasiado entediante, ao menos assim sempre vou vendo a miséria alheia, a miséria materializada nos outros mas que eu sinto cá dentro.
É para isto que andamos aqui às voltas? Para sermos uns seres amorfos sem vontade, como eu me sinto?
Penso que quando morrermos a nossa vida passar-nos-á toda à nossa frente em três dimensões, portanto acho melhor que tenhamos bons momentos para ver… No meu caso para além das bebedeiras monumentais, das mocas ainda maiores, e das fodas monumentais (foram poucas, para ser franco) não tenho mais nada de interessante para ver, não há nada de verdadeiramente belo ou sublime nesse filme que passará em Cinemascope quando eu morrer.
Quando acabei o liceu virei-me para os meus pais e perguntei: “Então e agora?”, eles responderam:”Vai tirar um curso”; acabei o curso voltei a perguntar-lhes o mesmo e eles disseram para arranjar um emprego. Consegui arranjar estabilidade num emprego a ganhar imenso, e voltei-lhes a perguntar:”E agora?” – e eles:”Sabemos lá, casa-te!”.
Assim fiz, é claro que não durou nem dois anos; pelo menos não tivemos filhos, o que teria sido mau. E agora? Bem agora aqui ando eu, trabalho cada vez menos, bebo cada vez mais, e tenho cada vez menos paciência para esta merda toda.
As pessoas que conheço são todas desinteressantes, as mulheres com quem me envolvo não têm nada dentro da cabeça, também se calhar por isso é que se envolvem comigo. Descobri há muito tempo que gosto de foder e isso é algo de que não abdico, mas cada vez mais até o sexo me sabe sempre ao mesmo. O amor, esse anda escondido em esquinas estreitas, só pode; mas também nem sei se é disso que ando à procura, aliás acho mesmo é que não ando à procura de nada.
Nada me escandaliza, nada me chateia; se uma mulher engraça comigo e eu engraço com ela, jantamos, bebemos uns copos e fodemos ou não!
Leio, vejo televisão. como, cago, vou ao cinema, apanho bezanas e grandes mocas, fodo, vomito; tudo com a mesma sensação de vazio, de indiferença; não há música, poema ou pintura que me arranque deste torpor maldito. Não sorrio, esboço com esforço um esgar para não parecer mal, sinto-me a maioria das vezes encurralado e apetece-me gritar, e penso que estou a ficar louco. Por isso sinto-me bem ao pé dos outros loucos que andam no metro e no eléctrico, ao menos ao pé desses eu não destoo. Destoamos e desbotamos desta sociedade estranha e mal cheirosa em que vivemos. Os loucos somos nós que de entre todos, nos estamos a cagar para essa mesma sociedade, “brotherwood of man” ou lá o que lhe quiserem chamar.
Abençoada demência e dormência que se instalou na minha vida, destruindo o meu bom senso e regras de conduta impostas pelos outros; graças a qualquer desígnio misterioso sou mais inconformado, revoltado e preguiçoso que os demais, mas também mais iluminado.
Estas pequenas viagens nos transportes públicos têm muitas vezes acontecimentos particularmente interessantes – o velho louco e suado que só diz asneiras, a miúda gira que cheira mal dos pés, o mamilo erecto por baixo de uma t-shirt sem soutien de uma atraente nórdica, o palrar descontrolado dos turistas espanhóis que acabam por sair sempre na paragem errada. Coisas destas dão um colorido diferente às minhas manhãs, aliás não é por acaso que me levanto meia hora mais cedo, estas viagens de transporte público são me necessárias, para poder vislumbrar a fauna existente por aí na cidade. Podia muito bem ir no meu carro, ou de táxi, ganho suficientemente bem para isso - seria demasiado entediante, ao menos assim sempre vou vendo a miséria alheia, a miséria materializada nos outros mas que eu sinto cá dentro.
É para isto que andamos aqui às voltas? Para sermos uns seres amorfos sem vontade, como eu me sinto?
Penso que quando morrermos a nossa vida passar-nos-á toda à nossa frente em três dimensões, portanto acho melhor que tenhamos bons momentos para ver… No meu caso para além das bebedeiras monumentais, das mocas ainda maiores, e das fodas monumentais (foram poucas, para ser franco) não tenho mais nada de interessante para ver, não há nada de verdadeiramente belo ou sublime nesse filme que passará em Cinemascope quando eu morrer.
Quando acabei o liceu virei-me para os meus pais e perguntei: “Então e agora?”, eles responderam:”Vai tirar um curso”; acabei o curso voltei a perguntar-lhes o mesmo e eles disseram para arranjar um emprego. Consegui arranjar estabilidade num emprego a ganhar imenso, e voltei-lhes a perguntar:”E agora?” – e eles:”Sabemos lá, casa-te!”.
Assim fiz, é claro que não durou nem dois anos; pelo menos não tivemos filhos, o que teria sido mau. E agora? Bem agora aqui ando eu, trabalho cada vez menos, bebo cada vez mais, e tenho cada vez menos paciência para esta merda toda.
As pessoas que conheço são todas desinteressantes, as mulheres com quem me envolvo não têm nada dentro da cabeça, também se calhar por isso é que se envolvem comigo. Descobri há muito tempo que gosto de foder e isso é algo de que não abdico, mas cada vez mais até o sexo me sabe sempre ao mesmo. O amor, esse anda escondido em esquinas estreitas, só pode; mas também nem sei se é disso que ando à procura, aliás acho mesmo é que não ando à procura de nada.
Nada me escandaliza, nada me chateia; se uma mulher engraça comigo e eu engraço com ela, jantamos, bebemos uns copos e fodemos ou não!
Leio, vejo televisão. como, cago, vou ao cinema, apanho bezanas e grandes mocas, fodo, vomito; tudo com a mesma sensação de vazio, de indiferença; não há música, poema ou pintura que me arranque deste torpor maldito. Não sorrio, esboço com esforço um esgar para não parecer mal, sinto-me a maioria das vezes encurralado e apetece-me gritar, e penso que estou a ficar louco. Por isso sinto-me bem ao pé dos outros loucos que andam no metro e no eléctrico, ao menos ao pé desses eu não destoo. Destoamos e desbotamos desta sociedade estranha e mal cheirosa em que vivemos. Os loucos somos nós que de entre todos, nos estamos a cagar para essa mesma sociedade, “brotherwood of man” ou lá o que lhe quiserem chamar.
Abençoada demência e dormência que se instalou na minha vida, destruindo o meu bom senso e regras de conduta impostas pelos outros; graças a qualquer desígnio misterioso sou mais inconformado, revoltado e preguiçoso que os demais, mas também mais iluminado.
1 Comments:
Caro Mike:
Longe j'a vao os tempos do nosso passado comum e da esfrega-cerebral a que fomos sujeitos. Estes sao sem duvida tempos estranhos.
Partilho da tua opiniao. Ao olharmos para dentro de n'os mesmos, a pouca flora que encontramos a germinar sao ervas daninhas que os ventos do "progresso" trouxeram. A racionalidade que adquirimos costuma ter um alto preco que se paga em nao tao suaves prestacoes mentais.
Ultimamente tenho tido contacto com certos membros do reino fungi que me apontaram caminhos alternativos, naturalmente surreais, em oposicao a surrealidade anti-natural do quotidiano. Parece-me agora possivel reestructurar estes jardins interiores, com umas couves, umas batatas, enfim, algo que alimente o esp'irito.
Acho que o conceito de deus (com letra pequena para nao tropecar) tem sido uma bela aquisicao que me tem ajudado.
Deixo-te uma frase do Terrence Mckenna (famoso psiconauta): "Culture is not your friend"
Entretanto, toma l'a um abraco, e at'e 'a vista Mike!
Gomes :)
P.S. Isto anda mal de acentos.
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