Há raparigas maiores que outras
Parecia que estava à espera do autocarro há uma eternidade. Com a moca de erva tudo parece durar indefinidamente, principalmente o tempo…
Assim que entrei no autocarro dirigi-me imediatamente ao assento singular que estava mais perto, e ali fiquei todo esticado como se tivesse com as costas coladas atrás. À minha frente ia sentado um homem que andava de muletas, pois tinha uma perna menor que a outra. Tinha o cabelo, já grisalho, todo penteado para trás com brilhantina, na boca faltavam-lhe uns dentes de lado, e nas mãos pulsavam os anéis de ouro com ou sem brilhante, alternado dedo sim, dedo não.
Três paragens à frente entrou uma miúda, era apenas uma miúda de certeza, que já andava na “vida”. Embora gira, arranjava-se de maneira a fazer sobressair os seus atributos e falo em concreto das mamas que quase saltavam para fora. É claro que os machos bêbados e malcheirosos que iam no autocarro começaram logo a salivar como “pavlovs”. O “gimbras” à minha frente latiu e uivou mesmo, pelo menos com a moca assim me pareceu…Quando saí apercebi-me que tinha me enganado na paragem, estava a pelo menos a 700 metros da minha casa, mas “no problemo” lá teria de fazê-los a pé; acendi um cigarro e pus-me a caminho. À minha a volta a paisagem era um amontoado de vagabundos, latas vazias, cartões a fazerem de cama, sirenes e carros de polícia e putas, muitas putas: havia uma rua então que eram umas 15 e os chulos do outro lado da rua na penumbra.
Ainda se meteram comigo umas tantas mas eu não lhes dei cavaco, queria chegar a casa para me pôr a ouvir música descontraidamente, sim porque não estava em condições de fazer mais nada, nem de foder.
Assim que a voz de Jim soou nas colunas, deu-me como que um espasmo que me fez rodopiar e saltar que nem louco; se alguém me visse naquela altura de certeza que chamariam pessoas para me institucionalizar.
“Love hides in narrow corners, love is the answer”, canta Jim, e é mesmo verdade, pelo menos eu quero acreditar que sim, embora comigo tenha acontecido poucas vezes. Também nos dias que correm parece que anda tudo com medo de se apaixonar, tudo agarrado aos "namoradinhos" para se casarem brevemente, mas não deixam de mandar as suas quecas por fora. Elas e eles, é tudo a mesma coisa.
Enquanto as músicas se iam sucedendo, vinha-me à mente várias ideias de todo o tipo. Pensei que já não fodia há que tempos, que tinha de comprar o novo cd do Tom Waits e o do Cave, que tinha de comprar pasta de dentes, que devia de começar a fumar menos e dormir mais. Pensei em cancro, em mamas descaídas, em cus reluzentes, em broches passados, no cartão de crédito para pagar e no bocado de parede que me faltava na casa-de-banho. Pensei tudo isto e mais em poucos minutos, pois ainda só estava na terceira música daquele álbum.
Estava a começar a dar-me a fome e o sono, mas não queria sair do sítio onde estava, queria ter alguém ali para conversar, para poder olhar durante um bocado. Podia despi-la lentamente, ao mesmo tempo que íamos falando mais e dando uns beijos. Não tinha que haver sexo, pelo menos não naquele momento; a verdade é que me apetecia olhar para um corpo feminino nu. Não há nada como observar uma mulher nua, de preferência com a luz nocturna a banhar-lhe a pele. Observar as pequenas imperfeições e cicatrizes, a marca do bikini, a tatuagem ou piercing se fosse caso disso; no fundo explorar uma “no man’s land”. Por muitos homens que já tenham estado com essa mulher, existe sempre algo novo, que nunca ninguém reparou, algo que ela guarda lá muito fundo.
Era isto que naquele momento eu desejava, mas limitei-me a ir à janela apanhar ar fresco e fumar mais um cigarro, cagando para o cancro e coisas afim.
Uma mensagem nova fez-me tomar consciência da existência do meu telemóvel, que estava mesmo ao meu lado; tanto quando entendi naquela altura tinha-o trazido na mão para ali, mas já não me lembrava. Era Mónica a convidar-me para um café ou copo no dia seguinte. Era engraçado, ultimamente recebia mensagens de mulheres que só queriam falar e conversar comigo; foder nada. Devia estar a atravessar algum período em que transmitia um sentimento de segurança e tranquilidade, e então todas elas me vinham contar os seus problemas e maus momentos, normalmente associados a algum gajo que na altura andassem a comer. Sim porque todas elas não gostavam das pessoas com quem estavam, mas parecia que não queriam ver a verdade, que lhes bailava mesmo por baixo dos olhos. O que fazer: as mulheres são mesmo assim, complicadas; eu não as compreendo, mas como enquanto as escutava ia fazendo perguntas e apresentando teorias, às vezes recambolescas é certo, elas achavam que eu era um gajo porreiro para ouvi-las a descarregarem as suas amarguras.
Ah as mulheres; não podemos viver com elas, mas morremos se vivemos sem elas. Nós homens também somos uns palermas, isso é certo, desde os que deitam a língua de fora, como reacção pavloviana, aos armados em sensíveis.
Nada como ir ouvir o Wilde da Pop para olvidar estes pensamentos; nada como ouvir “Some girls are bigger then others” para ficarmos com um sorriso nos lábios, embora não deixe de ser uma das mais importantes verdades acerca da vida, que já foram cantadas.
Fui-me encostando na cama, sorrindo sempre, fechando os olhos que já me caíam pesadamente. Por fim o sorriso desfez-se, o queixo pendeu, e eu fui enterrando a mona cada vez mais na poça de saliva babada, que se ia formando debaixo da minha cabeça.
Assim que entrei no autocarro dirigi-me imediatamente ao assento singular que estava mais perto, e ali fiquei todo esticado como se tivesse com as costas coladas atrás. À minha frente ia sentado um homem que andava de muletas, pois tinha uma perna menor que a outra. Tinha o cabelo, já grisalho, todo penteado para trás com brilhantina, na boca faltavam-lhe uns dentes de lado, e nas mãos pulsavam os anéis de ouro com ou sem brilhante, alternado dedo sim, dedo não.
Três paragens à frente entrou uma miúda, era apenas uma miúda de certeza, que já andava na “vida”. Embora gira, arranjava-se de maneira a fazer sobressair os seus atributos e falo em concreto das mamas que quase saltavam para fora. É claro que os machos bêbados e malcheirosos que iam no autocarro começaram logo a salivar como “pavlovs”. O “gimbras” à minha frente latiu e uivou mesmo, pelo menos com a moca assim me pareceu…Quando saí apercebi-me que tinha me enganado na paragem, estava a pelo menos a 700 metros da minha casa, mas “no problemo” lá teria de fazê-los a pé; acendi um cigarro e pus-me a caminho. À minha a volta a paisagem era um amontoado de vagabundos, latas vazias, cartões a fazerem de cama, sirenes e carros de polícia e putas, muitas putas: havia uma rua então que eram umas 15 e os chulos do outro lado da rua na penumbra.
Ainda se meteram comigo umas tantas mas eu não lhes dei cavaco, queria chegar a casa para me pôr a ouvir música descontraidamente, sim porque não estava em condições de fazer mais nada, nem de foder.
Assim que a voz de Jim soou nas colunas, deu-me como que um espasmo que me fez rodopiar e saltar que nem louco; se alguém me visse naquela altura de certeza que chamariam pessoas para me institucionalizar.
“Love hides in narrow corners, love is the answer”, canta Jim, e é mesmo verdade, pelo menos eu quero acreditar que sim, embora comigo tenha acontecido poucas vezes. Também nos dias que correm parece que anda tudo com medo de se apaixonar, tudo agarrado aos "namoradinhos" para se casarem brevemente, mas não deixam de mandar as suas quecas por fora. Elas e eles, é tudo a mesma coisa.
Enquanto as músicas se iam sucedendo, vinha-me à mente várias ideias de todo o tipo. Pensei que já não fodia há que tempos, que tinha de comprar o novo cd do Tom Waits e o do Cave, que tinha de comprar pasta de dentes, que devia de começar a fumar menos e dormir mais. Pensei em cancro, em mamas descaídas, em cus reluzentes, em broches passados, no cartão de crédito para pagar e no bocado de parede que me faltava na casa-de-banho. Pensei tudo isto e mais em poucos minutos, pois ainda só estava na terceira música daquele álbum.
Estava a começar a dar-me a fome e o sono, mas não queria sair do sítio onde estava, queria ter alguém ali para conversar, para poder olhar durante um bocado. Podia despi-la lentamente, ao mesmo tempo que íamos falando mais e dando uns beijos. Não tinha que haver sexo, pelo menos não naquele momento; a verdade é que me apetecia olhar para um corpo feminino nu. Não há nada como observar uma mulher nua, de preferência com a luz nocturna a banhar-lhe a pele. Observar as pequenas imperfeições e cicatrizes, a marca do bikini, a tatuagem ou piercing se fosse caso disso; no fundo explorar uma “no man’s land”. Por muitos homens que já tenham estado com essa mulher, existe sempre algo novo, que nunca ninguém reparou, algo que ela guarda lá muito fundo.
Era isto que naquele momento eu desejava, mas limitei-me a ir à janela apanhar ar fresco e fumar mais um cigarro, cagando para o cancro e coisas afim.
Uma mensagem nova fez-me tomar consciência da existência do meu telemóvel, que estava mesmo ao meu lado; tanto quando entendi naquela altura tinha-o trazido na mão para ali, mas já não me lembrava. Era Mónica a convidar-me para um café ou copo no dia seguinte. Era engraçado, ultimamente recebia mensagens de mulheres que só queriam falar e conversar comigo; foder nada. Devia estar a atravessar algum período em que transmitia um sentimento de segurança e tranquilidade, e então todas elas me vinham contar os seus problemas e maus momentos, normalmente associados a algum gajo que na altura andassem a comer. Sim porque todas elas não gostavam das pessoas com quem estavam, mas parecia que não queriam ver a verdade, que lhes bailava mesmo por baixo dos olhos. O que fazer: as mulheres são mesmo assim, complicadas; eu não as compreendo, mas como enquanto as escutava ia fazendo perguntas e apresentando teorias, às vezes recambolescas é certo, elas achavam que eu era um gajo porreiro para ouvi-las a descarregarem as suas amarguras.
Ah as mulheres; não podemos viver com elas, mas morremos se vivemos sem elas. Nós homens também somos uns palermas, isso é certo, desde os que deitam a língua de fora, como reacção pavloviana, aos armados em sensíveis.
Nada como ir ouvir o Wilde da Pop para olvidar estes pensamentos; nada como ouvir “Some girls are bigger then others” para ficarmos com um sorriso nos lábios, embora não deixe de ser uma das mais importantes verdades acerca da vida, que já foram cantadas.
Fui-me encostando na cama, sorrindo sempre, fechando os olhos que já me caíam pesadamente. Por fim o sorriso desfez-se, o queixo pendeu, e eu fui enterrando a mona cada vez mais na poça de saliva babada, que se ia formando debaixo da minha cabeça.