quarta-feira, dezembro 07, 2005

Toda a necessidade tem um ego para alimentar

As ruas estão cada vez mais cheias de merda e lixo, principalmente lixo humano, no qual eu me enquadro totalmente, farrapo que sou, tão igual e diferente do meu semelhante. Bêbados, loucos raivosos, teens imbecis, velhas lamurientas a pedir esmola, coxos, aleijados e aleijões morais; todos correndo, fugindo de ou em busca de alguma coisa. O verdadeiro Armagedão não veio com cataclismos e fogo dos infernos, antes se vai fazendo notar lentamente a cada dia que passa.
Também eu fujo tentando refugiar-me em casa, mas o cheiro nauseabundo a carcaças humanas é virolento demais e chega aos céus, infiltra-se pelas rachas da parede e pelas frinchas das janelas. Não há droga ou vinho saboroso que façam estas brumas desaparecerem da minha mente; o cheiro a morte estás sempre presente, juntamente com os perfumes baratos das putas de esquina, e o odor pestilento dos vagabundos que vagueiam pela cidade ou que modorram nas entradas do metro sem se importarem com nada a não ser com o frio e a fome.
Os Prozac’s, os Xanax’s e os Valiuns apenas adiam a realidade, e tão bom que é por vezes alhearmo-nos deste mundo, desta vida, desta terrível merda em que estamos enfiados.
A moral morreu, a paixão não existe, apenas há a podridão, o negrume fétido da mentira ao qual nós, alguns, poucos, muito poucos, tentamos escapar.
No geral vejo as pessoas numa atitude de sabujos displicentes, tentando colmatar as suas deficiências emocionais com hipocrisia, carreiras fúteis na busca de dinheiro para comprarem, gastarem, consumirem, afogarem-se em nadas que vão esvaziando cada vez mais as suas almas. Enchem-se de roupas de marca e berloques esses humanos por aí, na vã esperança de conseguirem numa noite qualquer, numa baiuca qualquer, entre mais um copo e mais um charro, conseguirem ir com alguém para casa para foderem. Anda por aí tudo a foder como coelhos e sentem-se grandes homens e mulheres, não passando de ignorantes ocos por dentro.
Bem-vindos à era da masturbação colectiva, em que todas a necessidades têm um ego para alimentar; e eu vou com vocês por aí, masturbando-me e entulhando-me com as vossas mentiras e falsos moralismos.