segunda-feira, abril 11, 2005

Pedaço de uma Sexta-feira santa

... a aparelhagem e apanho as chaves, ao mesmo tempo que atiro com a porta enquanto saio. Lá fora a noite cai com uma chuva miudinha a bater nas janelas dos prédios decadentes que albergam famílias desfeitas. Vou apanhar o metro que me levará ao encontro da Sara, e depois seguiremos juntos para o jantar.
Vejo-a descer as escadas rolantes, dirige-se a mim naquele seu andar tão característico como que a dizer: “I don’t give a fuck”; o cabelo molhado da chuva cola-se à cabeça dando-lhe um ar engraçado.
Metemo-nos no metro, outra vez, em direcção à Praça Central da cidade; 5 minutos a pé até ao restaurante. Chinês. Com karaoke. Um achado e um mimo.
Mandamos vir logo duas imperiais, estão frescas, escorregam bem enquanto dissertamos um pouco sobre a vida. Nada de muito profundo embora também um pouco mais sério do que o costume.
A malta aparece e a galhofa começa; garrafas de vinho tinto e rosé passam de mão em mão e os pratos começam a chegar e a ser esvaziados pouco tempo depois. As coisas começam a aquecer, começamos a fazer planos para cantar, e assim o fazemos quando temos oportunidade… A minha voz soa péssima, admiro-me de não ter feito com que os clientes e empregados abandonassem aquele espaço.
Bebo mais um copo de vinho e fumo mais um cigarro; charros rodam mas não me está a apetecer por aí além, apenas dou um bafinho para sentir o gosto.

A primeira risca é dada na casa de banho das mulheres, há muito que não dava na branca, já não me lembrava como era. Curiosamente fico, não num estado frenético, mas bastante cool; acho que a minha maneira de ser faz com fique sempre para o calmo, ou então é da idade, não daquela que tenho no BI, mas daquela com que me sinto às vezes – anda à volta dos 65, 66, essa idade.
Pagamos e embora que temos de ir curtir para outro lado; antes disso tentar comprar mais uma grama, para a noite ser mais colorida.

Entramos na Calisto perto das 2 da manhã, já bem atestados; algumas mulheres bem atraentes mas estou fora, completamente fora. Bebe-se mais uma jola, fuma-se mais um cigarro, parece que não fiz outra coisa a noite toda. O som rebenta das colunas, e assalta-me os ouvidos e os sentidos, na pista comporto-me como se fosse um junkie desesperado por uma dose.
Mais uma ida à casa de banho, mais uma risca; narinas dilatadas, sabor acre na garganta, os vasos sanguíneos da retina parece que vão rebentar.
Ao voltar duas miúdas dançam enlaçadas uma na outra como se se fossem “comer”, é uma cena de filme que deixa todos os homens loucos; eu continuo na minha, agrada-me o que vejo, mas continuo noutra.

A branca tolda-nos os sentidos duma maneira “simpática”; não me ocorre um adjectivo melhor para empregar. Somos só sorrisos para todos e todas, conhecemos o mundo inteiro e o mundo inteiro também nos conhece a nós. Estamos no centro, somos se não os maiores, um dos maiores.
Na disco corpos suados e tão ou mais “mocados” que o meu roçam-se ao som de músicas que temos dificuldade em reconhecer à primeira; agarra-se uma cerveja e vai–se à varanda para fumar um charro só para contrabalançar o caudal electrizante da “farinha mágica”. Enquanto entramos novamente para o reboliço reconhecemos ao longe, muito ao longe; embora o som esteja a ser vomitado de colunas ao nosso lado; uma versão, com batida, do “Break on through (to the other side)”; enlaçamo-nos com a turba deixando que as ondas sonoras nos...