À noite um concerto
O dia começou como sempre: levantei-me a cambalear, fui-me despachar, lavar os dentes e tomar banho, e fui trabalhar. Apesar das 9 horas dormidas ainda estava todo partido.
Estive um ano sem trabalhar e ainda por cima o emprego que tinha era sentado ao telefone com uns “headsets” na cabeça a falar com clientes de um banco. Agora estou há um mês numa livraria a arrumar livros, atender pessoas, fazer embrulhos e a andar de um lado para o outro.
Bem as hora lá se passaram e quando fechei a loja apanhei o eléctrico e saí perto da “Garagem Paraíso” para ir a um concerto nessa noite. Mas cheguei cedo demais. Sentei-me ali perto numa paragem de autocarro a ler. À minha volta eram só bêbados e gente desesperada que vive por ali. Passou uma hora, tentei entrar para o concerto mas as portas ainda não tinham aberto.
Sentei-me mais um bocado a descansar os “presuntos” e tirei os ténis; tentei fazer uma massagem mas o suor acumulado, de ter estado o dia todo em pé, exalava um cheiro intenso demais.
Calcei-me e consegui entrar; revistaram-me às três pancadas como de costume nestas coisas e fui o primeiro a entrar na sala, não que isso tenha um significado por aí além; para ser franco para mim hoje em dia, tanto se me dá de ser o primeiro ou o último, desde que consiga ver o que quero. Longe vão os tempos em que ia às 9 da manhã para uma fila para ser dos primeiros a entrar no velho Estádio José de Alvalade para ficar junto ao palco…
Ao entrar dou logo de caras com um empregado “bichona”, que tinha ao mesmo tempo uma cara e um “look” perfeitos, como só os “gays” têm.
Fui logo mamar uma imperial pois estava ressequido do calor que tinha feito o dia inteiro e que ainda se fazia sentir ali dentro de uma forma mais intensa. Uma versão muito “electro” do “ Love will tear us apart” dos Joy Division ecoava; o ambiente estava muito clamo, mas a música bombava, muito à base dos 80’s mas com uma batida por baixo.
O “barman gay” saracoteava-se… Não percebo este fenómeno: será que levar no cú faz com que a espinha dorsal amoleça? Não sei como é que estás “mariconeras” se abanam desta maneira: eu não consigo – mas ao mesmo tempo parace-me uma cena “do positivo”, pois vê-se que a música percorre aqueles corpos, movendo-os ao som da batida; enquanto que um machão a dançar parece uma parede de cimento a tombar de um lado para o outro.
Penso eu que a música foi feita para ser curtida assim, livremente, sem inibições; veja-se como dançam muitas mulheres (nem todas, mas muitas delas), veja-se o menear da “nêgas” e dos “irmãos”.
Os brancos ou “pulas” machões, coitados, não dançam assim. Deve haver algo no cérebro destes que impede que se movimentem mais do que um passo para direita, outro para a esquerda, um p’ra frente e outro para trás.
A imperial acabou, ‘tá na altura de pedir outra e ver como é que isto corre. Estou na expectativa; os gajos que vêm tocar, já tem mais de 30 anos de carreira; mas ainda o ano passado lançaram um grande albúm. Ainda tão em forma, em estúdio pelo menos, vamos a ver em palco.
Isto está a ficar mais composto, gajas é mentira e a média da faixa etária está acima dos 30; eu devo ser o mais novo. Sou um puto – essa é que é a verdade, eheheh…
“Bejeca time again” e vou pedir ao “barman gay”, visto não haver mais ninguém por perto a servir. Dou mais uma volta pela sala para melhor sentir o ambiente; pelo menos já apereceram umas mulheres, algumas até bem jeitosas. Chego-me à frente do palco sem dificuldades, dali posso até tocar no gajo se ele se aproximar um pouco.
As luzes apagam-se e ali está ele: Vega, Alan Vega – o homem, o deus ( para alguns), velho, gasto e inchado, com o cabelo arranjado de uma maneira que até parece uma peruca, e óculos. Atrás vem Martin Rev o homem das teclas e maquinaria afim.
Começam logo a debitar som, Vega sempre cambaleante é uma sombra daquilo que foi, mas a voz continua ácida, acutilante e penetrante. Dão um concerto do caraças embora muito curto.
Ainda há tempo para beber mais uma e fumar mais um cigarro, e sigo para a rua. Para meu espanto Alan Vega está na porta dos empregados a dar autógrafos e a conversar calmamente. Dou-lhe o meu bilhete para ele assinar e digo-lhe: “great show, man”. Ele quase nem olha para mim e balbucia qualquer coisa; verdade seja dita o homem quase nem está ali. As drogas ao longo da vida devem ter sido tantas que o gajo agora está sempre “fora”, sempre num estado “zen” toxico-induzido constante.
Continuo no meu caminho para ir apanhar o autocarro para casa, saboreando o ar quente da noite. Hoje vou dormir como uma pedra, e amanhã, um dia como os outros, já se vislumbra.
Estive um ano sem trabalhar e ainda por cima o emprego que tinha era sentado ao telefone com uns “headsets” na cabeça a falar com clientes de um banco. Agora estou há um mês numa livraria a arrumar livros, atender pessoas, fazer embrulhos e a andar de um lado para o outro.
Bem as hora lá se passaram e quando fechei a loja apanhei o eléctrico e saí perto da “Garagem Paraíso” para ir a um concerto nessa noite. Mas cheguei cedo demais. Sentei-me ali perto numa paragem de autocarro a ler. À minha volta eram só bêbados e gente desesperada que vive por ali. Passou uma hora, tentei entrar para o concerto mas as portas ainda não tinham aberto.
Sentei-me mais um bocado a descansar os “presuntos” e tirei os ténis; tentei fazer uma massagem mas o suor acumulado, de ter estado o dia todo em pé, exalava um cheiro intenso demais.
Calcei-me e consegui entrar; revistaram-me às três pancadas como de costume nestas coisas e fui o primeiro a entrar na sala, não que isso tenha um significado por aí além; para ser franco para mim hoje em dia, tanto se me dá de ser o primeiro ou o último, desde que consiga ver o que quero. Longe vão os tempos em que ia às 9 da manhã para uma fila para ser dos primeiros a entrar no velho Estádio José de Alvalade para ficar junto ao palco…
Ao entrar dou logo de caras com um empregado “bichona”, que tinha ao mesmo tempo uma cara e um “look” perfeitos, como só os “gays” têm.
Fui logo mamar uma imperial pois estava ressequido do calor que tinha feito o dia inteiro e que ainda se fazia sentir ali dentro de uma forma mais intensa. Uma versão muito “electro” do “ Love will tear us apart” dos Joy Division ecoava; o ambiente estava muito clamo, mas a música bombava, muito à base dos 80’s mas com uma batida por baixo.
O “barman gay” saracoteava-se… Não percebo este fenómeno: será que levar no cú faz com que a espinha dorsal amoleça? Não sei como é que estás “mariconeras” se abanam desta maneira: eu não consigo – mas ao mesmo tempo parace-me uma cena “do positivo”, pois vê-se que a música percorre aqueles corpos, movendo-os ao som da batida; enquanto que um machão a dançar parece uma parede de cimento a tombar de um lado para o outro.
Penso eu que a música foi feita para ser curtida assim, livremente, sem inibições; veja-se como dançam muitas mulheres (nem todas, mas muitas delas), veja-se o menear da “nêgas” e dos “irmãos”.
Os brancos ou “pulas” machões, coitados, não dançam assim. Deve haver algo no cérebro destes que impede que se movimentem mais do que um passo para direita, outro para a esquerda, um p’ra frente e outro para trás.
A imperial acabou, ‘tá na altura de pedir outra e ver como é que isto corre. Estou na expectativa; os gajos que vêm tocar, já tem mais de 30 anos de carreira; mas ainda o ano passado lançaram um grande albúm. Ainda tão em forma, em estúdio pelo menos, vamos a ver em palco.
Isto está a ficar mais composto, gajas é mentira e a média da faixa etária está acima dos 30; eu devo ser o mais novo. Sou um puto – essa é que é a verdade, eheheh…
“Bejeca time again” e vou pedir ao “barman gay”, visto não haver mais ninguém por perto a servir. Dou mais uma volta pela sala para melhor sentir o ambiente; pelo menos já apereceram umas mulheres, algumas até bem jeitosas. Chego-me à frente do palco sem dificuldades, dali posso até tocar no gajo se ele se aproximar um pouco.
As luzes apagam-se e ali está ele: Vega, Alan Vega – o homem, o deus ( para alguns), velho, gasto e inchado, com o cabelo arranjado de uma maneira que até parece uma peruca, e óculos. Atrás vem Martin Rev o homem das teclas e maquinaria afim.
Começam logo a debitar som, Vega sempre cambaleante é uma sombra daquilo que foi, mas a voz continua ácida, acutilante e penetrante. Dão um concerto do caraças embora muito curto.
Ainda há tempo para beber mais uma e fumar mais um cigarro, e sigo para a rua. Para meu espanto Alan Vega está na porta dos empregados a dar autógrafos e a conversar calmamente. Dou-lhe o meu bilhete para ele assinar e digo-lhe: “great show, man”. Ele quase nem olha para mim e balbucia qualquer coisa; verdade seja dita o homem quase nem está ali. As drogas ao longo da vida devem ter sido tantas que o gajo agora está sempre “fora”, sempre num estado “zen” toxico-induzido constante.
Continuo no meu caminho para ir apanhar o autocarro para casa, saboreando o ar quente da noite. Hoje vou dormir como uma pedra, e amanhã, um dia como os outros, já se vislumbra.