terça-feira, fevereiro 15, 2005

Amar uma estranha

Sei que é um disparate mas não posso desperdiçar esta oportunidade que o destino nos deu para te dizer o que te devia ter dito há 5 minutos atrás. Sim eu sei, pareço um doido, talvez um psicopata, mas prometo não te fazer mal e só te peço 2 ou 3 minutos do teu tempo, depois nunca mais me verás.

Não te vou dizer que és linda nem nada desse género, essa é talvez a pior frase de engate que existe, e eu não quero engatar-te; não vou tão pouco dizer-te que me fazes lembrar aquela actriz do ER que é a cirurgiã britânica, mas agora já disse e realmente és mesmo parecida. O que eu te queria dizer é no breve momento que olhaste para mim à saída do cinema algo dentro de mim fez com que o meu cérebro parasse; a minha saída para a rua foi feita em câmara lenta, a sério, quando cheguei cá fora estava atarantado parecia uma barata tonta a dar dois passos em frente outros dois atrás. Estava um rapaz sentado na boca de incêndio lá fora a olhar para mim com um ar que dizia: “Este gajo é maluco dos cornos!”.
É claro que tive que voltar para trás, dirigi-me à casa de banho, mas isso era só uma desculpa para te ver outra vez: tu não tinhas descido; e lá estavas tu naquele hall da saída das salas de cinema onde nos deram de oferta cappucinos da Nescafé, passei por ti, olhei e tu olhaste para mim, e subi para ir ao WC fazer o que os gajos fazem, normalmente, de pé.
Na porta do sanitário onde fui estava escrito: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do menino que amamenta, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria.” – não sei porquê mas aquela frase fez todo o sentido relacionando-me contigo, o que é um grande disparate desde já se diga.
Desci e já não te vi e acredita-me senti uma das maiores desilusões da minha vida; cabisbaixo segui em direcção às escadas que me levariam à saída, e de repente eis que apareces ao meu lado a desceres as mesmas escadas que eu, e fomos andando lado a lado até tu ires para o Multibanco mais póximo e eu fazer uma tangente à entrada do metro - não ia entrar queria ver-te mais uma vez.
E aquilo que te queria realmente dizer depois desta longa introdução, aquilo que realmente é importante, por mais ridículo e estúpido que possa parecer, é que, durante aqueles 5 a 10 segundos que durou a nossa caminhada semi-paralela; eu amei-te. Amei-te verdadeiramente de corpo e alma, amei-te como os deuses amam outros deuses, como Édipo amou a sua mãe, como o Sailor Ripley amou a sua Lula no Wild at Heart.
É tão estranho como é que em 10 minutos podemos olhar para alguém apaixonarmo-nos por essa pessoa, amá-la e perdê-la em seguida; como vai acontecer comigo e contigo agora.

Não, não digas nada, é melhor assim, deixa que esta fantasia me faça aguentar os dias solitários que tenho pela frente; em verdade te digo que o que fantasiamos é sempre muito melhor do que a realidade.
Adeus e até sempre…