Rasgo o Asfalto
"O mundo começa a desabrochar em feridas"
As rodas vão rasgando o asfalto do acesso à grande metrópole, o traço branco interrompido faz-me companhia assim como a voz do Mr. Mojo no amplificador do carro.
Às colunas que sustentam os vários acessos, falta-lhes bocados arrancados por intermináveis acidentes rodoviários. Há um cheiro contínuo a borracha queimada e a metal retorcido no ar. Dirijo-me nem sei bem para onde, rolo apenas pelo prazer de rolar; acendo mais um cigarro, bebo mais um gole da cerveja gelada que comprei numa loja de conveniência.
Poemas nocturnos despoletam no meu cérebro, bófias com aspecto de agarrados vêem-se aos pares dentro de modelos de automóveis já velhos e ultrapassados.
Vivo em toda a parte, caminho para cima ou para baixo, caminho em direcção à perdição ou redenção; sou um inconstante; vejam, vejam-me a mudar constantemente.
Até o sol nascer estarei sempre a rodar, sempre em movimento.
***
Meio-dia. Levanto-me cambaleante em direcção à casa de banho para vomitar; apenas sai líquido alaranjado, certamente influenciado pelas cervejas bebidas no decurso da noite anterior.
Faço a barba golpeando-me quatro a cinco vezes, dois deles bem profundos; ao menos assim tenho a certeza que o sangue pulsa dentro de mim; estou vivo embora não pareça.
Saio de casa, rodo a chave na ignição, o motor ronca feliz por poder mostrar mais uma vez o seu poder. Dirijo-me para o inferno do emprego, pela frente filas e filas de carros; é sempre assim a qualquer hora do dia nesta cidade velha. O cheiro a bifanas anda no ar, misturando-se com o do asfalto gelado pelas noites deste inverno rigoroso. O meu banco de trás esse cheira a charros dos buracos feitos pelos “brindes”, a cerveja e vinho entornados e a sémen e suor requentado de fodas com mais de cinco anos. Um pequeno haiku ressalta-me da massa negra que tenho na cabeça:
“Broches, minetes,
misturados com trompetes
frios cortantes”
Só penso na vinda do crepúsculo para poder ver os anjos perdidos da noite; coxas que se arrastam provocantes e que me farão vir quando se roçarem na minha pele nua… Até lá bebe-se umas, fuma-se outras; entorpece-se a mente com eflúvios e devaneios vários.
***
A chama do isqueiro lambe a ponta de mais um cigarro, nada mais se vê dentro do habitáculo; o cabedal das minhas calças roça na manete de mudanças, lá dentro algo cresce, algo procura um sítio quente e húmido para se esconder. Paro num bar para mais um shot e uma risca de coca, este leva-me directamente à estratosfera. Meto conversa com uma morena peituda e cuzuda; dá-me bola; vamos, vamos para outro sítio; vamos para dentro do meu carro, afinal ambos queremos o mesmo, queremos enquanto somos jovens e fascinantes, embora não o sejamos realmente.
Paro num beco, a língua dela chicoteia a minha, a sua mão não se fazendo de rogada, explora e conquista todo o meu corpo; agarra-me o pénis habilmente como o já fez tantas outras vezes. Sem dar por isso tenho-o dentro da boca dela, quase que expludo no momento mas consigo aguentar-me; ainda não é tempo. Puxo-a para cima de mim, não há tempo para grandes trabalhos de língua da minha parte; ela, aliás pede-me que o meta dentro dela. Por mais incrível que pareça, assim que o enterro vem-se uma vez, continuo, não sei como mas estou a aguentar-me, parece que tenho 18 anos outra vez; ponho-me em cima dela agarrando-lhe uma perna por cima do meu ombro, nem sei como o consegui fazer dentro do carro. Diriam se me vissem que agora vou em grande estilo, pareço um garanhão latino a sério, mas já não aguento mais, enquanto ela se vem mais uma ou duas vezes, rebento dentro dela jorrando tudo aquilo a que tenho direito.
Sugou-me 10 anos de vida, mas valeu a pena; sinto-me vivo e desperto. Trocamos números de telemóvel; ela na esperança de repetir uma façanha igual eu na certeza de que me vou esquecer do papel em qualquer lado e arrepender-me depois.
O ronco do motor acompanha o baixo da música –“Well I’m the Crawling King Snake and I rule my den…” enquanto rodo a mais de 130 km/h no acesso principal. Exaspero por um embate frontal, mas sei no meu íntimo que não vai acontecer nada. Apenas queimarei um pouco mais os travões e os pneus neste asfalto já gasto mas ainda negro como uma noite sem estrelas.
Os bares de putas acompanham-me no meu caminho de regresso a casa; dormirei hoje como uma pedra, talvez ao acordar não vomite. Talvez…
As rodas vão rasgando o asfalto do acesso à grande metrópole, o traço branco interrompido faz-me companhia assim como a voz do Mr. Mojo no amplificador do carro.
Às colunas que sustentam os vários acessos, falta-lhes bocados arrancados por intermináveis acidentes rodoviários. Há um cheiro contínuo a borracha queimada e a metal retorcido no ar. Dirijo-me nem sei bem para onde, rolo apenas pelo prazer de rolar; acendo mais um cigarro, bebo mais um gole da cerveja gelada que comprei numa loja de conveniência.
Poemas nocturnos despoletam no meu cérebro, bófias com aspecto de agarrados vêem-se aos pares dentro de modelos de automóveis já velhos e ultrapassados.
Vivo em toda a parte, caminho para cima ou para baixo, caminho em direcção à perdição ou redenção; sou um inconstante; vejam, vejam-me a mudar constantemente.
Até o sol nascer estarei sempre a rodar, sempre em movimento.
***
Meio-dia. Levanto-me cambaleante em direcção à casa de banho para vomitar; apenas sai líquido alaranjado, certamente influenciado pelas cervejas bebidas no decurso da noite anterior.
Faço a barba golpeando-me quatro a cinco vezes, dois deles bem profundos; ao menos assim tenho a certeza que o sangue pulsa dentro de mim; estou vivo embora não pareça.
Saio de casa, rodo a chave na ignição, o motor ronca feliz por poder mostrar mais uma vez o seu poder. Dirijo-me para o inferno do emprego, pela frente filas e filas de carros; é sempre assim a qualquer hora do dia nesta cidade velha. O cheiro a bifanas anda no ar, misturando-se com o do asfalto gelado pelas noites deste inverno rigoroso. O meu banco de trás esse cheira a charros dos buracos feitos pelos “brindes”, a cerveja e vinho entornados e a sémen e suor requentado de fodas com mais de cinco anos. Um pequeno haiku ressalta-me da massa negra que tenho na cabeça:
“Broches, minetes,
misturados com trompetes
frios cortantes”
Só penso na vinda do crepúsculo para poder ver os anjos perdidos da noite; coxas que se arrastam provocantes e que me farão vir quando se roçarem na minha pele nua… Até lá bebe-se umas, fuma-se outras; entorpece-se a mente com eflúvios e devaneios vários.
***
A chama do isqueiro lambe a ponta de mais um cigarro, nada mais se vê dentro do habitáculo; o cabedal das minhas calças roça na manete de mudanças, lá dentro algo cresce, algo procura um sítio quente e húmido para se esconder. Paro num bar para mais um shot e uma risca de coca, este leva-me directamente à estratosfera. Meto conversa com uma morena peituda e cuzuda; dá-me bola; vamos, vamos para outro sítio; vamos para dentro do meu carro, afinal ambos queremos o mesmo, queremos enquanto somos jovens e fascinantes, embora não o sejamos realmente.
Paro num beco, a língua dela chicoteia a minha, a sua mão não se fazendo de rogada, explora e conquista todo o meu corpo; agarra-me o pénis habilmente como o já fez tantas outras vezes. Sem dar por isso tenho-o dentro da boca dela, quase que expludo no momento mas consigo aguentar-me; ainda não é tempo. Puxo-a para cima de mim, não há tempo para grandes trabalhos de língua da minha parte; ela, aliás pede-me que o meta dentro dela. Por mais incrível que pareça, assim que o enterro vem-se uma vez, continuo, não sei como mas estou a aguentar-me, parece que tenho 18 anos outra vez; ponho-me em cima dela agarrando-lhe uma perna por cima do meu ombro, nem sei como o consegui fazer dentro do carro. Diriam se me vissem que agora vou em grande estilo, pareço um garanhão latino a sério, mas já não aguento mais, enquanto ela se vem mais uma ou duas vezes, rebento dentro dela jorrando tudo aquilo a que tenho direito.
Sugou-me 10 anos de vida, mas valeu a pena; sinto-me vivo e desperto. Trocamos números de telemóvel; ela na esperança de repetir uma façanha igual eu na certeza de que me vou esquecer do papel em qualquer lado e arrepender-me depois.
O ronco do motor acompanha o baixo da música –“Well I’m the Crawling King Snake and I rule my den…” enquanto rodo a mais de 130 km/h no acesso principal. Exaspero por um embate frontal, mas sei no meu íntimo que não vai acontecer nada. Apenas queimarei um pouco mais os travões e os pneus neste asfalto já gasto mas ainda negro como uma noite sem estrelas.
Os bares de putas acompanham-me no meu caminho de regresso a casa; dormirei hoje como uma pedra, talvez ao acordar não vomite. Talvez…