segunda-feira, junho 13, 2005

High Nº 5

Regressar a casa de metro totalmente “mocado”, que viagem perfeita para o final de fim de tarde de mais um feriado municipal da capital; este em que se comemora o Santo casamenteiro.
A viagem de regresso a casa depois de mais um dia de trabalho começou no eléctrico do Diabo, ou melhor no eléctrico conduzido p’lo condutor que vendeu a alma ao Diabo; e em troca este fê-lo o condutor mais rápido do oeste; pelo menos no que toca aos eléctricos.
À minha frente vai um casal adolescente acompanhado pela progenitora da fêmea, e se falo nestes termos é porque ainda agora tenho dúvidas de se pertenceriam à espécie humana ou a um outro qualquer ramo da família dos mamíferos. O macho tem os dentes incisivos do maxilar superior podres e com uma cor de tal maneira escura que chega a ser ofensivo; no extremo do seu ser, como se dum protector craniano se tratasse, usa um “cap” dos New York Yankees, equipa que nunca na vida viu jogar, seja lá o que os NY Yankees joguem, pois este espécimen também o não sabe; mas pelo menos tem a noção de que são uma equipa e que jogam algo. Nos dedos usa aros de metal, provavelmente um metal nobre como o ouro, reminiscência da “fortuna” que os seus progenitores lhe legaram à nascença. Entabula uma conversa numa língua ininteligível com a progenitora da fêmea; provavelmente trata-se de uma espécie de acasalamento, mas perdi demasiados episódios do National Geographic para ter a certeza.
Desligo-me do que se passa à minha frente e presto antes atenção ao vento que me vai fustigando a cara; vento que entra por uma janela deixada aberta por algum passageiro mais encalorado e que eu estou demasiadamente cansado e “ganzado” para tentar fechar. Provavelmente também não conseguiria fazê-lo e acabaria por fazer figura de otário citadino, daqueles que raramente usam os transportes público; o que nem é o caso.
Sem dar quase conta já cheguei à paragem que faz ligação com o metro; desço apressadamente enquanto fecho o meu casaco, por pouco não me estatelo no chão. Way to go, Jack!
Espera. Detesto estar à espera de metro, principalmente neste estado de espírito em que tudo é difuso, e nunca sei bem como actuar. Vislumbro seres à minha volta, nunca sei bem se estão a fixar-me, penso que sim, mas sei que realmente não estão. Quando o metro finalmente chega, sento-me e leio uma página do Murakami; mas só uma pois não consigo concentrar-me para ler mais. Na paragem seguinte entra o cego mais ritmado que alguma vez na minha vida vi; este homem deve ser a reencarnação de algum percursionista cubano fabuloso; o que ele consegue fazer com uma caixa de madeira e dois pedaços de metal (metal, este, não-nobre) é absolutamente estrondoso. Quase me sinto tentado a dar-lhe uns trocos, mas sei que o “Blindrums” é um “agarrado” de primeira, e dinheiro p’ra droga só dou aos meus amigos.
Tudo no metro é suspeito, desde o velho estrábico que se senta à minha frente e que eu não sei se se está a fazer a mim ou à adolescente do banco do lado; até ao puto com feições asiáticas, que se senta à minha frente e olha de lado os outros putos de mau aspecto que estão no fundo da carruagem. Sou da opinião que este puto “chinês” vai ser, ou tem medo de ser, assaltado pelos outros dois; mas vejo que afinal não é nada disso, o puto apenas está é cheio de pressa para chegar a casa. Deve estar cheio de fome ou então com uma grande vontade de mijar, que é o acontece comigo; agora me dou conta, mas tenho uma vontade de mijar gigante como há muito não tinha, potencializada por todo o chocalhar do eléctrico e do metro.
Saio da estação de metro, nem acender um cigarro acendo, corro para casa, subindo os degraus de dois em dois; finalmente, depois de levantar a tampa (lembrei-me a tempo que já tinha tampa de sanita em casa, coisa recente e reveladora do quanto o meu espírito hospitaleiro está a evoluir), obtenho o tão almejado alívio.
Ui que bom; juro, às vezes nestas situações, mijar torna-se mais gratificante que foder.
Como diz o meu amigo Bunny: "Ah pois é bébé!"